Passei por tua casa. Não bati à porta, muito menos quis que me visses. Encostei-me à árvore grande que há em frente, do outro lado da rua e esperei ver-te pela janela, a passear de livro na mão pelo quarto. Não te vi.
Vim todo o caminho debatendo-me que podia ter-te visto, se tivesse batido, mas certamente, não me irias querer ver.
Ultimamente, estamos evitando esbarramos-nos por aí. Nem na escola consigo ver-te e todos os teus horários na padaria deixaram de ser compatíveis com os meus do futebol. Parece que os mudaste. Não seria a primeira vez, não é? Já os tinhas mudado uma vez, para podermos estar juntos, por isso não me admiraria (nem admira) se o fizesses, uma vez mais.
Não consigo ver-te em carne e osso e isso mata-me por dentro. Eu sei, eu sei. A culpa foi toda minha. Eu é que fiz por merecer perder-te. Quem me dera poder mudar as coisas, porém o tempo não volta mais. Passaste a odiar-me e não te condeno por isso.
Estava tão assustado por me teres dito o quanto gostavas de mim que não consegui dizer-te o quanto também gostava de ti.
Sei que pode ser incoerente da minha parte, amar-te, mas deixar-te ir. Não fazer nada para que tudo volte a ser como antes (porque não volta e nós sabemos disso). Contudo, sei que te magoei demais e que todos os dias, fazes de tudo para seguir em frente, para esquecer-me. E não quero atrapalhar esse teu luto forçado. Não quero que te doa mais do que está doendo.
Eu só consigo magoar as pessoas que me rodeiam. Não consigo mantê-las por muito tempo na minha vida, porque sempre acabo por desiludi-las. Contigo não foi diferente. Por mais que quisesse que o fosse.
Não te peço que me desculpes. Não mereço o teu perdão. Embora haja algo que preciso devolver-te. Pertence-te e enquanto o manter, não conseguirás esquecer-me por completo. O teu coração. Ele continua comigo. Pulsando, ainda que menos veloz, mas sempre no mesmo ritmo. E sabes porquê? Porque por mais exercícios que faças, por mais que me evites, ainda sentes muito por mim. Não quero isso. Não quero que fiques presa a alguém como eu, que só te faz sofrer, diariamente, um pouco mais.
Entrego-te o bem mas precioso que alguma vez tive. Precisas dele. Mais do que alguma vez precisei. Devolvo-te. Não peço o meu de volta. Ele sempre será teu, ainda que nunca saibas que o é. Ainda que nunca saibas que foste a única a quem ele pertenceu.
Obrigada, mas não te mereço…