Obrigada, mas não te mereço…

Passei por tua casa. Não bati à porta, muito menos quis que me visses. Encostei-me à árvore grande que há em frente, do outro lado da rua e esperei ver-te pela janela, a passear de livro na mão pelo quarto. Não te vi.

Vim todo o caminho debatendo-me que podia ter-te visto, se tivesse batido, mas certamente, não me irias querer ver.

Ultimamente, estamos evitando esbarramos-nos por aí. Nem na escola consigo ver-te e todos os teus horários na padaria deixaram de ser compatíveis com os meus do futebol. Parece que os mudaste. Não seria a primeira vez, não é? Já os tinhas mudado uma vez, para podermos estar juntos, por isso não me admiraria (nem admira) se o fizesses, uma vez mais.

Não consigo ver-te em carne e osso e isso mata-me por dentro. Eu sei, eu sei. A culpa foi toda minha. Eu é que fiz por merecer perder-te. Quem me dera poder mudar as coisas, porém o tempo não volta mais. Passaste a odiar-me e não te condeno por isso.

Estava tão assustado por me teres dito o quanto gostavas de mim que não consegui dizer-te o quanto também gostava de ti.

Sei que pode ser incoerente da minha parte, amar-te, mas deixar-te ir. Não fazer nada para que tudo volte a ser como antes (porque não volta e nós sabemos disso). Contudo, sei que te magoei demais e que todos os dias, fazes de tudo para seguir em frente, para esquecer-me. E não quero atrapalhar esse teu luto forçado. Não quero que te doa mais do que está doendo.

Eu só consigo magoar as pessoas que me rodeiam. Não consigo mantê-las por muito tempo na minha vida, porque sempre acabo por desiludi-las. Contigo não foi diferente. Por mais que quisesse que o fosse.

Não te peço que me desculpes. Não mereço o teu perdão. Embora haja algo que preciso devolver-te. Pertence-te e enquanto o manter, não conseguirás esquecer-me por completo. O teu coração. Ele continua comigo. Pulsando, ainda que menos veloz, mas sempre no mesmo ritmo. E sabes porquê? Porque por mais exercícios que faças, por mais que me evites, ainda sentes muito por mim. Não quero isso. Não quero que fiques presa a alguém como eu, que só te faz sofrer, diariamente, um pouco mais.

Entrego-te o bem mas precioso que alguma vez tive. Precisas dele. Mais do que alguma vez precisei. Devolvo-te. Não peço o meu de volta. Ele sempre será teu, ainda que nunca saibas que o é. Ainda que nunca saibas que foste a única a quem ele pertenceu.

Obrigada, mas não te mereço…

Parar é necessário.

Eu só queria descansar. Poder desligar do mundo, não sentir nada. Apenas ficar respirando, dormindo. Sem sonhar sobre nada. Só descansando, porque às vezes tudo cansa. Cansa insistir com as pessoas erradas (mas é uma escolha nossa), cansa continuar levantando quando nem pregamos olho de noite. As coisas vão pesando mais e mais. Já não são só as olheiras que gritam o quanto não dormimos. O nosso comportamento indica também, a forma como nos distraímos constantemente com a maior das facilidades. Aí, começamos a preocupar-nos, a entender que precisamos de descanso.

Talvez umas horinhas não bastem, para reabastecer todas as energias gastas, porque há muita negatividade por tirar, muita flor por regar e muita coisa por curar. Cuidamos sempre do exterior e nos preocupamos bem mais com ele, do que com o interior. A nossa saúde mental é na mesma medida (e até mais) importante do que todo o resto. Uma mente doente é pior que um corpo cansado, porque o próprio cansaço é algo também psicológico. A nossa mente interfere com tudo.

Deitei e não preguei olho. Uma vez mais. Não tinha qualquer indício de ansiedade, nem tinha algo marcado por fazer. Não descansei. O cansaço acumulou, acumulou e acumulou. Até à exaustão. Os cafés já não serviam de nada. As palavras de motivação de terceiros ecoavam, mas não ficavam. Até que por fim desmaiei. Fui forçada a parar. Estava na altura de descansar, contra a minha vontade (ainda que em certa parte, o quisesse muito).

Bastou algo para me fazer relaxar e dormi um dia inteiro. Quando acordei estava deveras renovada, serena e em paz. Era como se uma borracha tivesse passado por mim e eu não conseguisse sentir nada. Seria anestesia? Afinal, o que me tinham dado? Ou seria eu, que finalmente tinha descansado porque naquela maca não havia uma ausência? Porque nada ali me lembrava de alguém ou de algo?

Parar é necessário. Entendi isso. Parar, descansar e deixar de matutar o que já passou. Nem sempre iremos ter controlo sobre as coisas que nos acontecem, porém temos controle do que faremos com o acontecido. A última palavra será sempre nossa, o que faremos em seguida só nós decidimos. As memórias ficam, a dor acaba por desaparecer e a alma se torna leve e provavelmente, capaz de poder receber algo/alguém de novo. Só basta querer e deixar que aconteça, quando tiver de ser.

Porque no outono fica tudo mais bonito

O frio já se começa a sentir, as malhas já nos chamam mais atenção e começam a sair do armário, as folhas mudam a sua cor habitual para tons acastanhados e amarelados, já nos apetece castanhas, chocolate quente e cappucino com chantilly, mantas e tardes inteiras assistindo séries ou filmes.

Os cheiros se intensificam, de dia para dia. É aquela época agridoce. Quente e fria ao mesmo tempo. É tempo de nos despedirmos dos amores de verão, de combinar mais cafés do que idas à praia, de ver o bronze desaparecer pausadamente, pensar nas metas até então concluídas e em futuros livros para devorar no autocarro.

O rolo de câmara vai enchendo gradualmente com as nossas várias fotos, umas apenas agasalhadas por uma malha castanha ou amarela, outras com gorros e cachecóis e ainda outras, mais artísticas, em que as folhas pairam no ar ou no chão. Até as fotografias ganham uma visão diferentemente agradável e aconchegante, porque tudo no outono fica mais bonito.

Por mais estações destas vividas, há sempre algo especial em cada ano. É como se tudo fosse novidade, se apenas uma folha caindo fosse sinónimo de felicidade, se as castanhas quentes nos aquecessem-se a alma e as mantas fossem a melhor forma de unirem-se ao amor da vossa vida, numa simples tarde chuvosa de outono.

São detalhes que contam e que ficam para sempre na memória. É da temporada mais bonita, que parece desaparecer tão rápido. Como se se tratasse de uma forma para nos prepararmos para o gelo do inverno, em que uma simples chávena de chocolate não chega, uma manta não seja capaz de unir dois corpos frios e que cada saída da cama custe mais que a do dia anterior. O outono, certamente, deveria ser mais aproveitado por nós, pela simplicidade que carrega, pela forma como nos satisfaz tão prontamente com pouco.

Pudessem todas as outras estações, carregar a mesma simpleza e serem tão bonitas, como esta. Pudesse esta ser aproveitada, como deveria, como as restantes. Seria tão mais simples e as pessoas seriam mais bonitas (por dentro, especialmente).

És tu que me fazes sentir assim

Sempre soubeste que era uma mulher com muitos demónios por trás, com uma vontade enorme de afogar-me, com muitos medos e erros a atormentar-me diariamente. Ainda assim achaste – mesmo sendo eu muito negativa e sendo tu das pessoas que mais detesta isso –, que conseguias ensinar-me a ser diferente. Não sei o que desde o início, te deu margem para acreditares que a tua missão iria seguir avante e que iria triunfar, porém, por alguma razão, continuaste e acreditaste nisso.

Agora, refletindo sobre como tudo começou, noto que jogaste bem. Apanhaste-me no momento certo, num de extrema fragilidade, em que me preparava para abandonar tudo, para desistir dos meus sonhos até então tão desejados. Foi ali que viste uma boa maneira de começar a mudar a minha perspectiva sobre a vida e as pessoas, em geral. Foste tu que aguentou o barco, enquanto tentava ainda decidir se ficar era uma opção fiável, se iria de facto valer a pena. E de todo valeu. Disso, tenho certeza, ainda que muitos dias, fique a pensar o contrário.

Disseste-me um dia que poderia ser quem eu quisesse, desde que quisesse e fizesse por isso. Investi em projetos que jamais pensei em investir, mudei o meu ponto de vista, a maneira como penso, deixei até de ser pessimista e hoje sou otimista (algo impensável, antes), passei a ter mais confiança no meu trabalho e em mim, mas no fim, és sempre tu que me consegues destruir. Com um simples ato ou palavra, sabes que abalas o meu psicológico por inteiro. Já conheces-me bem demais, e tens acesso já ao que penso, tens quase controlo total da minha mente e sabes sempre como irei reagir e o que irei dizer em seguida. Não precisas controlar os meus passos pois sabes quais irei dar, em seguida. Tu treinaste-me para ser como tu, logo tudo aquilo que faço e penso, é algo que também farias e pensarias.

És tu que me fazes sentir fraca. Nunca ninguém consegue, a não seres tu. Abalas-me por inteiro. Deixas-me sem palavras, sem atos de forma a escapulir-me, deixas-me enfurecida, com ciúmes e irracional. Contigo é sempre tudo tão intenso. Ou é ou não é. E sei bem que fazes o que fazes pois aumenta-te o ego, pois sabes bem que irás surtir algum efeito em mim – aquele que queres que eu sinta e que tu sabes que irei sentir.

Não sou de todo a mais bonita, nem tampouco gostosa, não me comparo a ninguém, detesto que me comparem, mas tenho aquilo que tu anseias, aquilo que me ensinaste.

Sabes bem que não sou romântica e detesto lamechices, mas fazes-me fraquejar com coisas tolas. Coisas que ao serem mais românticas não deveriam nem mexer com o meu subconsciente, mas mexem. E de que maneira.

Andas às voltas. Dizes que não procuras, que não queres ser encontrado, que estás bem assim, mas a tua sede de não ser sozinho invade-te imensas vezes o peito e o pensamento. E quando isso acontece é a mim que recorres e brincas um pouco, porque sabes que embora finja que levo na brincadeira, estás a atingir um fim, aquele fim inatingível para todos os outros.

E no fim, és um sacana que sabe exatamente o que quer, que dá a volta à conversa quando o assunto já não lhe convém, quando lhe faz falar mais de ti do que de mim, quando sabes que acabarás por ter de dizer algo mais íntimo e não é isso que pretendes. És um filho da puta porque andas a brincar com sentimentos, sem os demonstrares diretamente, mas ainda assim fazes com que fique a pensar duas vezes no que disseste. Mas é isso mesmo que pretendes, não é? Que eu fique a pensar em ti, no quanto me fazes sentir, no quanto me iludes, no quanto me deixas fora de mim. E sabes bem que é esse o efeito que tens sobre mim. És tu que me fazes sentir assim.

25.08.18

acalmaquesintofalta

Apetece-me ir ao mar. Pela primeira vez, depois de cinco anos sem o fazer.

Por mais que chore, para aliviar o peso que carrego, não alivia. Apenas adio o inadiável. A bagagem que trago já se torna insuportável de carregar. É um peso constante no peito, um respirar cansado – como se os meus pulmões implorassem por descanso –, um acordar desmotivado, um mar de desilusões constantes e várias pessoas que conheci, que só me magoam (magoaram).

Quero apenas ir ao mar e deixar que ele leve o que não me acrescenta, o que me confunde, o que me tira do sossego. Reencontrar, ao fim de sessenta meses, o sossego, o cheiro a sal, as ondas calmas molhando-me os pés e puxando-me mais um pouco. É desta calma que sinto falta. Daqueles minutos em que esvazio a mente, não penso em rigorosamente nada e apenas sinto o peito encher de gratidão, calma e felicidade. Daqueles minutos em que fecho os olhos e sinto-me leve, como se o mar levasse todo o mal e deixasse somente o bem.

Pisar a água e deixar que o silêncio se faça presente, onde estamos a sós, é algo inigualável. É como se estivéssemos totalmente entregues à imensidão que é o mar. Entregamos-nos de corpo e alma e esperamos que o mesmo nos saiba dar as respostas que procuramos e ansiamos.

A cura, muitas vezes, está em algo tão próximo de nós e somos os únicos que não vemos isso ou que adiamos essa mesma cura. Não há como adiar mais este meu reencontro com ele. Preciso deixar de me sentir insana, preciso voltar a respirar fundo sem sufoco, preciso sentir-me leve, preciso esvaziar o coração de mágoas e de pessoas que não merecem lugar em mim. Preciso fundir-me com o mar e ouvir as respostas que ele me dará (sejam elas fáceis de engolir ou difíceis), pois só assim conseguirei ter paz.

Acordar aqui

Acordar aqui é voltar a sentir-me em paz, de novo. Voltar às raízes. Voltar a ter tempo somente para descansar e para avaliar-me enquanto pessoa, a mente e as ações feitas. Voltar aqui é sentir-me em casa, mesmo que esta seja alugada apenas por duas semanas. Voltar aqui e poder cheirar as flores plantadas no jardim, o cheiro a enxofre; poder apreciar de um vento quente, mas reconfortante; poder andar descalça em casa; poder andar na rua feliz e apreciar cada pedaço de natureza que me rodeia.

Voltar aqui após 7 anos é rejuvenescer, de dentro pra fora, porque o que conta está sempre cá dentro.

Vim sozinha desta vez e não me arrependo por isso. Consigo apreciar o céu, a água quente, os sabores, tudo com tempo e calma. E acima de tudo, consigo refletir sobre tudo e sobre mim.

Passei por tantas casas. Sempre que cá venho fico a pensar em qual delas a minha avó cresceu. E sempre que passo pelo hotel onde ela trabalhava, lembro-me da história de amor dos meus avós paternos. O amor era sem tretas. Era amor e pronto. Sentia-se. Fazia-se por estar, nem que fosse por 10 minutos apenas, com a pessoa amada, ainda que isso implicasse andar 24km para a encontrar.

Já não há amores assim. Hoje, todos se “apaixonam” com algum interesse. Não sabem ser fiéis, fazer sacrifícios, namorar à distância então é impensável. Os tempos mudaram, disse-me um amigo no outro dia. De facto, mudaram. Um tanto para pior, neste caso.

E volto à casa antiga, que por mais tempo que tenha passado por ela, continua intacta e com aquele típico cheiro que só a casa da minha avó conseguia ter (dizia até que cheirava a antiguidades, quando era mais nova), onde volto a sentar-me no quintal, rodeada de natureza e de silêncio, onde penso como é difícil esta nova era em que vivo.

Há coisas que não deveríamos deixar morrer. Há coisas que não deveriam deixar de ser essenciais (como o amor ao outro e à natureza). Há coisas que deveriam continuar a ser o que sempre foram, mas tudo muda e o mundo evolui. Até eu cresci. A menina de 12 anos, quando cá veio, não pensava nem de perto, nem de longe, o que teria de passar para cá voltar. Mas hoje sei que apesar de todas as batalhas enfrentadas, reencontrei-me. É bom acordar aqui e despertar a miúda que por muito viveu adormecida em mim.

Esperava mais de ti

Quando mais ninguém estava lá, eu estava para te apoiar. Quando nas noites de madrugada em que vias o teu sonho crescer e batalhavas por isso, estava acordada lendo o passo a passo do que estavas a fazer, compartilhando da tua felicidade. Quando as coisas davam certo e partilhavas comigo, comemorava contigo. Sempre estive cá para ti, como em outrora estiveste para mim.

Quando mais precisei e estava no fundo, sem rumo e sem saber o que fazer, foste lá baixo, agarraste-me a mão e puxaste-me para cima. Depois de vários abanões fortes mostraste-me o que estava perdendo e o que tinha perdido. Deste-me novamente uma ferramenta, essa que poderia revolucionar a minha vida e foi isso mesmo que aconteceu. Como em tempos falamos, eu poderia nem estar assim agora. Deste-me as bases, partilhaste conhecimento, mas se cheguei até aqui foi porque quis, porque coloquei em prática o que me tinhas ensinado.

Não digo que não estiveste cá para mim, pois sempre o estiveste. Todos os dias nos falávamos como se nos conhecêssemos há anos. Confessaste-me mesmo que a única pessoa com quem falavas sempre era comigo. Isso deixava-me contente. Significava que eu era uma boa companhia e era de confiança para ti, porém muitas coisas não agradáveis li.

O facto de falares em mulheres tirava-me do sério. Quando te mencionava alguma, seja por que motivo fosse, terminavas por chamá-la de nomes sensuais e eu, sem jeito e enfurecida, tentava não mostrar que aquilo me incomodava e mandava-te emojis a rir, quando por dentro ruía. Sei bem que sabias o que estavas a fazer, os sentimentos que irias despertar em mim. Não eras tu que dizias que “pensavas imenso antes de mandar seja que mensagem fosse”? Então, sabias perfeitamente o que causavas a cada mensagem como aquela. E eu relevava.

Elogiaste-me? Sim. Não posso negar. Foram elogios a nível psicológico, porém, ainda assim, eram elogios. O meu problema sempre foi querer que me elogiasses como elogiavas as outras. Esse foi o meu erro. É, eu sempre cometi erros com os meus “amigos”.

Comecei no ginásio, mudei drasticamente a minha alimentação e os resultados foram aparecendo. Lembro-me bem quando te mostrei a fotografia do antes e depois. Quando disseste “estás ainda mais bonita” tudo sangrou. Afinal, não era disso que estava à espera. Fiquei sem te falar por uma semana. As mensagens não paravam de vir. Após dois dias sem que te respondesse, começaste a preocupar-te e aquela mensagem chegou ao meu telemóvel – quando tu nunca mandavas sequer mensagem por telemóvel. Tu tinhas noção do que tinhas feito, do que eu esperava que fizesses. Não respondi. No quarto dia ligaste-me 5 vezes e deixaste várias mensagens. Não fizeras como antes, não tinhas a meio falado de trabalho. Questionavas-me apenas se conseguia perdoar-te, se eu estava bem. E eu não respondi. Uma vez mais.

Lembro bem daquela sexta feira em que te vi pela primeira vez, não pelo melhor motivo, não da maneira que tinha sonhado que seria encontrar-te. Acabara de sair do trabalho, ainda de farda, com umas olheiras que nem o corretor conseguia tapar, e ao chegar perto do carro ouvi alguém chamar-me. Uma voz grave, firme. Olhei para trás e vi-te a andar depressa, dono de ti. Paraste, olhaste-me e abanaste a cabeça. Eu tinha emagrecido ainda mais. Levei-te, em silêncio, para um bar perto daquele local. Pediste café. Olhei-te com as lágrimas nos olhos e a seguir veio a maior facada. Não era recíproco. Não bebi o café. Não ouvi o que tinhas a dizer-me. Fugi para o carro, chorando sem parar e jurei nunca mais falar contigo.

A promessa manteve-se até vires ter comigo, de novo. Eu estava ainda mais magra – nunca pensei que conseguisse baixar dos 48kg, aqueles que tanto lutei para chegar e manter –, com olheiras enormes, com um aspecto que literalmente gritava desidratação. Desta vez, foste tu que choraste. Não disse uma única palavra. Fiquei a ouvir-te, como sempre. Provavelmente, poderia ter dito algo, poderia mostrar-te os vários textos que escrevi sobre o que sentia todos os dias, em que tirei-te à força da minha vida, mas apenas fiquei a olhar-te, em silêncio. Estás fria. Por dentro. Confirmei. Não foste a primeira desilusão, mas foste a última. Não permitia a este corpo ou a este coração sofrer mais. Bastava. Tudo tinha o seu limite.

No fim, eu esperava mais de ti. Sempre estive presente, comemorando das tuas conquistas, ajudando-te, dando-te a minha opinião, ouvindo coisas que não merecia ouvir e ainda assim, quando claramente sabias o que sentia, borrifaste-te para tudo o que tínhamos feito um pelo outro. Graças a ti, saí do fundo e graças a ti entrei nele de novo, para nunca mais sair. Acima de tudo, obrigada. Pelo menos, ainda não desisti de viver. Isso ensinaste-me bem.

apaixonada.

Em algum momento das nossas conversas durante a madrugada, até o nascer do sol, apaixonei-me por ti. Sem saber o porquê, gostava que me irritasses, gostava de falar contigo, de ouvir a tua voz, a tua gargalhada. Tudo isso me faz um bem danado que até hoje não descobri o porquê. Até então, não descobrir como me consegui abrir com alguém, como deixei que alguém me conhecesse tão bem, ao ponto de não precisar falar nada, para que a outra pessoa saiba o que sinto/penso.

Não importava para ti os meus traumas, o meu transtorno bipolar com a auto-estima, o meu corpo ou até o meu passado. E mesmo sabendo de todos os meus demónios, de todos os erros, não me deixaste só. Nem que por um segundo. Tal como quando nos vimos. A tua mão não desgrudava da minha. Não te precisava procurar, porque estavas sempre do meu lado. Não precisava implorar por carinho, porque o tinha, sem sequer o pedir. Não precisei dizer-te que estava perdidamente apaixonada por ti, para que soubesses que realmente o estava. Tu sabes perfeitamente o que sinto, o que penso. Tu já fazes parte de mim, de uma forma que nunca pensei ser possível.

És uma pessoa persistente, que não desiste facilmente, ainda que tenha mil motivos para o fazer e pense sobre isso. Comigo não foi diferente. Sou difícil, complicada, cheia de devaneios e assuntos por resolver, mas ainda assim, encontraste no meio do meu caos, a luz que faltava na tua vida. Encontraste no meu caos, a calma que faltava em ti. O turbilhão de sentimentos, fervendo, como nunca aconteceu antes. E eu sei, porque sinto o mesmo. Encontrei em ti, totalmente o oposto. Encontrei um porto seguro, um abraço a que posso chamar de casa, o amor que nunca recebi, a calma, a paciência, o amor.

Apaixonei-me poucas vezes, mas nunca tão intensamente. Por ti, não me apaixonei uma vez. Apaixono-me todos os dias, várias vezes. Dia após dia, dás-me ainda mais motivos que me fazem apaixonar por ti. Sempre. Repetidamente.

Foste o único capaz de me fazer sentir única no mundo e sobretudo, amada. Ter a possibilidade de ser amada por ti é gratificante. Poder conhecer-te, abraçar-te, olhar bem no fundo desses olhos cor de mel, beijar-te, amar-te, é absolutamente maravilhoso. Eu não consigo estar grata o suficiente, porque nunca será suficiente. Foi contigo, que realmente percebi o porquê de ter sofrido tanto até então, o porquê de não ter dado certo antes. Sempre foste tu.

Foste a melhor coisa que me aconteceu. És a única pessoa que me interessa. Basta-me ter-te, do meu lado, e sinto-me invencível e absurdamente feliz. E isso preenche-me. Completa(s)-me.

07.01.19

Sempre fui intensa demais.

Sempre fui intensa demais. Sempre senti muito, dei muito, ainda que a pessoa não merecesse e sofri imenso por conta disso também. Custo a entender quando as pessoas estão fazendo mais mal do que bem na minha vida. Custo a fechar as portas a alguém, a desapegar-me de más energias.

Espero que as pessoas consigam dar-me o que lhes dou, mas elas levam tudo o que sou e só deixam um vazio enorme por preencher. Custo imenso a esquecer a dor, ainda que a ferida esteja fechada e cicatrizada. Custo a ultrapassar alguém, a substituir a falta dela. Detesto/adoro falar com a mesma pessoa todos os dias. Quando deixa de o fazer, tudo cai. Parece que já não tem a mesma vontade, que deixei de ser importante ou até ser interessante. E dói demais quando tudo indica que essa pessoa apenas nos usou, para aquilo que pretendia de nós. E ainda assim, adivinha? Eu não aprendo. Continuo dando em demasia, quem nem um dedo daria por mim. Continuo amando demais os outros, sendo boa para todo o mundo. Continuo esperando boas coisas dos outros, acreditando que no fundo (bemmmm no fundo) têm mais qualidades que defeitos.

Já fui chamada de otária, já levei umas quantas bofetadas da vida e de quem me quis abrir os olhos. Porque cansa! Cansa ver alguém cair nas mesmas coisas, todas as vezes. E cansa sentir demais. Cansa ser intensa. Cansa dar tudo e nada receber. E cansa esperar. Esperar por coisas melhores, por algo que pode nem vir, por pessoas que não fizeram por ficar.

A culpa não é dos outros. A culpa é somente minha. Boa demais. Sempre de sorriso no rosto, esperando a próxima facada, a próxima pessoa a me usar. E cansei! Cansei de ser boa pessoa, de ficar dando todos os sinais que gosto de alguém. Cansei de manter tudo isso no meu peito, enquanto me sufocava, sem nem estar em água. E queres saber? Que se foda a tua opinião sobre mim, se sou ou não boa pessoa. Afinal, quando foi ao contrário, não quiseste saber também! Então foda-se! Sou intensa sim, mas já vi que a intensidade precisa ficar dentro de mim e não por aí, com as pessoas erradas!

A palavra que tanto temia

Porque não ficas? Olhei a miúda, com 20cm a menos que eu, enquanto vestia o casaco. Porque ficar seria demonstrar-te o que não te consigo dizer. Abri a porta do apartamento e encarei-a uma última vez, antes de dar-lhe um beijo na testa e entrar no elevador.

À medida que o elevador descia, sentia um enorme ardor no peito. Não conseguia dizer-lhe o que sentia, por mais que soubesse que não seria negado da sua parte. Apenas, não me permitia dizer a palavra que tanto me fez sofrer. Quando tento (e tentei inúmeras vezes), a mesma fica entalada na minha garganta, dói-me o peito e abraço-a com força, por não conseguir dizer-lhe o que os seus ouvidos desejam ouvir.

Saí do prédio e entrei no A3. Desloquei-me ao jardim de sempre e deixei o rádio a tocar, baixinho. Desbloqueei o ecrã, vendo uma mensagem sua. Irei esperar. Mas ela não devia. Não devia esperar por um “amo-te” que já é seu, por demonstrações de carinho que merece. Ela merece mais do que alguma vez poderei oferecer.

Não deveria ser difícil dizer algo que se sente. Deveria ser capaz de dizer o que sinto. Nem que fosse numa simples mensagem. Contudo, não queria que fosse por mensagem. Queria dizer-lhe olhos nos olhos, ainda que gaguejasse ao fazê-lo, para que pudesse entender que o que sinto por si é verdadeiro, é genuíno. Por mensagem qualquer pessoa é capaz de “demonstrar amor”, mesmo que esse seja falso, que não o sintam no peito. Não quero dar-lhe a entender isso. Não quero que pense algo que não é verdade. A verdade é que sou fraco. Deveria ser suficientemente capaz de dizer uma simples palavra. Mas não. Porque não é uma simples palavra. É a palavra que definirá tudo desde o exato minuto em que a murmuro, a que irá dar-nos a certeza de que o que temos é mais do que uma bonita amizade, o que irá fazer-me ver que conseguirei ser feliz. É uma palavra importante, com imenso significado para mim e que pesa muito.

Às vezes, não damos por isso, porém há palavras que à medida que vamos sofrendo, vamos deixando de conseguir dizê-las, porque dói sempre que nos lembramos de certos momentos. Há palavras que nos marcam pela negativa, que nos traumatizam. Mas como todos os traumas, há uma superação, uma cura.

Liguei o carro e voltei a sua casa. Pedi para subir, ao qual deu-me licença. Na porta, esperava-me já de pijama e sem maquilhagem, deixando-me ver as suas sardas que tanto teimava em tapar. Olhei-a nos olhos e apertei-lhe a mão. Doía, mas tinha de sair. Murmurei-lhe, baixinho, a palavra que tanto temia. E ali, uniu-se a mim e retribuiu o ato. Talvez, isto fosse o começo da recuperação interna. Afinal, o primeiro passo já estava dado e já a tinha ao meu lado. O resto será fácil.